entretanto e tão pouco...

quarta-feira, julho 27, 2005

Catarina partiu

Nada sugeria que Catarina fosse mudar de país... Nunca falara disso com ninguém, não tinha ido às embaixadas, não tinha procurado informações na net, nem sequer se tinha despedido do seu actual emprego. O trolley e a mochila tão pouco indicavam uma ausência prolongada... Mas Catarina partiu... Nunca sonhou com o que encontraria pela frente, não valia a pena, nunca poderia imaginar o que a esperava e nem sequer estava segura que realmente partiria e de qualquer maneira nunca tinha muito tempo para dedicar aos sonhos... Catarina não sabe o que é que aconteceu mas um dia fez as malas e partiu para um país diferente. Catarina nunca voltou... Não voltou para casa onde tinha uma família que sempre a amara. Não voltou para o emprego que a tia garantia mesmo depois de desaparecer por 3 anos. Não voltou para os amigos... A verdade é que Catarina não podia voltar. Algo dentro dela continuava a amar a família e os amigos exactamente com a mesma intensidade mas Catarina tinha desaparecido naquele dia em que partiu com as malas e nunca mais voltou.

Passados 3 anos foram buscar o seu corpo ao Aeroporto. O corpo reconhecícel de Catarina.

-"Precisava de mudar, mãe... desculpa ter-te fugido. Nada me parecia suficientemente longe para escapar aos tentáculos que me estavam a sufocar"

-"Quais tentáculos meu amor? Se precisavas de ajuda... nós nunca te faltámos... Anda, vamos para casa. Arrumei o quarto mesmo a teu gosto... e fizémos o teu jantar preferido. Vais descansar um bocadinho e depois vamos jantar. Convidei as tuas amigas Sónia e Isabel. Tinha pensado fazer uma grande festa mas imaginei que viesses cansada... Podemos fazer-te a festa de boas vindas no Sábado, já falei com a Ju e com a Leonor, estavam tão preocupadas contigo... elas vão fazer aquele salame de chocolate que tu adoras e a tua tia Ju disse logo que estava a contar contigo para a edição do próximo mês da revista... sabes que podes sempre contar com a família... mas não te preocupes que eu pedi que te deixasse descansar uns dias, deves vir tão cansada..."

quinta-feira, julho 21, 2005

Conchinha

Enquanto os pés sentiam a areia quente passar pelo meio dos dedos, a espinha contorcía-se involuntariamente sempre que caía aquele corpo moreno no seu campo de visão... o sal a queimar e o sol a mostrar um a um cada pêlo do seu peito. Quando os lençois estavam em guerra com o sol era aquela visão o argumento perfeito, absolutamente e deliciosamente perfeito, que ditava o destino do dia, deixando abandonados os lençois amarrotados e lá ía ela feliz para a praia... Nunca quiz nada além daquela saborosa contemplação. Não chegava nem perto de amor platónico, era só bom olhar, lamber o sal, apertar os músculos, deitar uma barriga sobre a outra ou deixar a barba dele arranhar-lhe as costas e gemer baixinho, sem que os engenheiros, que à sua frente erguiam um fabuloso castelo, se apercebessem da luxúria dos seus sonhos. Sentia que a indiferença do seu olhar estava em mutação e a cada novo encontro apareciam curiosos os pensamentos dele a espreitar pela menina dos olhos julgando-se ocultos na sombra negra em que viviam. Ela corava... dáva-lhe meio sorriso e baixava os olhos e ficava a rir-se para aquela conchinha que tinha apanhado no fundo do mar com a qual as mãos brincavam distraidamente. Perguntou-lhe se ele ainda a olhava e quando a conchinha corou ela percebeu que ele se agachava atrás de si... "deixaste cair isto... podia perder-se na areia..." e naquele preciso momento o vento enlouqueceu e um furacão levou-os na palma da mão, muito apertados um contra o outro, até uma outra praia, deserta e quente. A conchinha tinha ido de boleia bem guardada dentro da mão dela bem guardada dentro da mão dele e estava muito feliz. Sempre gostara de viajar. Sempre gostara de ser apanhada, namorada, só não gostava de ser levada para casa e esquecida... anos e anos sem ser olhada, tocada, sem o cheiro das algas e sem poder brincar com as ondas e os raios de Sol. Ele não sabia que ela guardava dentro da mão aquela conchinha mágica que tinha atirado ao mar nessa manhã depois duma longa conversa com os seus dedos...

quarta-feira, julho 20, 2005

entretanto

...e quando o muito é nada e o Sol é tudo mas agora é noite... digo que te amo Lua!