entretanto e tão pouco...

domingo, janeiro 15, 2006

Violada, fodida ou qualquer coisa parecida

Começava sempre pelo olho esquerdo que era mais fácil de pintar. O rímel, o lápis, e outras coisas que nem sabia o nome. Vestia a pele de predadora da noite mas acabava sempre por ser Maria a comida. Era a solidão que lhe abria a porta dos bares e discotecas e era a vergonha que a embebedava. Era a falta de um abraço, de um olhar meigo, de carícias sentidas e do amor que lhes segue. Maria queria ser amada mas não sabia. Só sentia desejo, um desejo perturbador que lhe baralhava as ideias e que a levava a cair sempre no mesmo erro, o de pensar ser o sexo o que mais lhe fazia falta. Maria pensava: "... para conversas e abraços tenho os meus amigos, o que eles não me podem dar é sexo, prazer carnal, orgasmos". Às vezes, muitas vezes, as suas mãos percorriam o corpo e tentavam substituir o que ela pensava que queria mas mais cedo ou mais tarde era num qualquer corpo mais ou menos estranho que Maria procurava a felicidade. Saía para comer. O desejo nem a deixava lembrar-se que não conseguia sentir prazer. Queria tanto sexo que nem sabia que não gostava. E Maria acreditava que tudo o que não podia acontecer era a notícia correr que ela não prestava e então fazia tudo o que sabia para dar prazer, garantido mais vítimas disponíveis para a próxima caçada. Maria violava-se mas ficava sempre muito admirada por não sentir prazer e assim ia continuando insatisfeita, insaciável, fechada naquele ciclo de desespero criado pela ilusão de ver a saída num olhar de desejo com bandeiras de prazer.